terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Estava te esperando!

'Então veio bruscamente em sua direção, devorando-a com o olhar negro. Puxou a cadeira que estava de frente com a dela com força suprema e desabou em choro profundo.'

Era uma manhã qualquer e ela tomava seu café, apenas isso, nada mais.
Lia o jornal, folheava as páginas como quem busca por algo importante, que nesse caso nem havia.
O dia estava chuvoso, motivo que talvez explicasse seu recolhimento, estava ausente de si mesma, figurando sua existência, se camuflando naquele refeitório gigante, realmente igual a uma criança, se escondendo por trás de um jornal velho.
Nos dedos com as pontas geladas, devido o frio cortante que vinha da porta principal, corriam as páginas e eram ligeiramente molhados nos lábios quentes de cor pálida.
Na cabeça mil pensamentos, no peito um coração que nem batia mais. Fria, era uma boa definição para aquela manhã de Setembro, definição que caia bem pra moça distante.
Na mesa ao lado havia um rapaz loiro de pele alva, olhos claros, que filtava-a sem rodeios e descrição, parecia interessado mesmo em saber o que se passava, ou interessado naquela moça tão sem graça de olhar morto. Aproximou-se, foi tomando espaço, pediu educadamente para se sentar ao lado dela, sentou-se.
Na verdade, aquele era o dia errado pra qualquer aproximação, até porque ela já esperava alguém que não sabia se viria, mas como o rapaz foi tão gentil e educado, deixou que se sentasse ali, desde que abraçasse junto a ela um silêncio cortante.
Derrepente ouviu-se passos firmes vindos da porta central, cabelos longos caídos pelo ombro e então veio bruscamente em sua direção, devorando-a com o olhar negro. Puxou a cadeira que estava de frente com a dela com força suprema e desabou em choro profundo.
Entendeu tudo errado, ou nem se fez entender. Há dias estavam indo de mal a pior, aos trancos e barrancos como diriam os antigos. Viu ali mais um motivo para se lamentar, para se doer de uma dor inexistente.
O rapaz em tom não tão gentil e um tanto quanto grotesco se afastou sorrindo ironicamente. Na mesa um ato quase único: alguém que chorava as dores de um amor que ainda era seu.
A moça pálida sorriu e disse 'que bom que você veio'. Assim então ficou subentendido que chorava em vão.






Então, quando os tempos difíceis encontrarem você

E os seus medos estiverem te cercando, enrole o meu amor em torno de você

Você nunca estará sozinho