terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inquieta!

Papéis, papéis e bagunça.
O café na xícara esfriava, o vento frio lá fora soprava, e ali, ali dentro havia apenas uma garota voando longe.
Em cima da mesa de madeira bruta, havia um livro de capa preta, um diário.
Não sei qual o motivo que a levou a abri-lo logo pela manhã, talvez a capa aveludada empoeirada ou então por ser a única coisa 'visível' em meio a tanta desordem. Começou a folheá-lo, acompanhada pelo olhar quieto de sua mãe que aproximou-se do vão da porta e a observou silenciosamente.
Deixava que as páginas deslizassem nos seus dedos, assim como o correr dos olhos em cada cantinho das folhas amareladas. Havia muita lembrança 'arquivada', fotos de quem não estava mais ali, de quem sentia vontade de ainda estar, mas que por algum motivo a vida afastou, amores, paixões de infância, velhos amigos, desconhecidos que fizeram parte de sua história, cães, animais em geral. Havia também muitas cifras, muitas canções 'compostas' em momentos onde somente o papel poderia trazer um conforto e quando só as canções traziam dias bonitos. Papéis de balas, bomboms, cartas.
Sentou-se por cima das pernas e ficou com o olhar perdido, talvez pensando no que havia deixado de fazer, ou no que não fez certo, nos arrependimentos e anseios, pensando talvez no impensável e por vezes sem pensar em nada, apenas tapeando o tempo, pra esquecer um pouco do mundo diferente em que estava metida agora.
Por fim, juntou toda a bagunça, e ergue o tapete pra aproveitar e tirar a sujeira que deixara escondida embaixo dele por tempos. Pegou uma caixa vermelha de cosméticos, uma em que havia guardado uma fragrancia que havia ganho, juntou suas lembranças e delicadamente colocou-as ali dentro, uma a uma, como se a cada uma delas fosse dando um adeus breve, pois sabia que iria outra hora se ver ali, revirando o arquivo da memória. Prendeu seu cabelo no alto, num rabo de cavalo deixando aparecer a tatuagem na parte de trás do pescoço, um número, uma marca, uma mancha feita por agulhas e um pouco de tinta preta.
Nos lábios um sorriso de quem ganha algo valioso, ou apenas de alguém que aceitou os 'detalhes' que a vida impoe, e sem pensar, tapeou a cilada, se fez de boba e fingiu não sentir mais nada. Em cima de caixas velhas co mais lembranças, guardou com carinho aquela que era especial. Depois disso a sonhadora menina, sentou-se tranquilamente na varanda para ler sobre o hoje no jornal.

'Mas guardei tuas cartas com letra de fôrma...' ♪

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