domingo, 31 de outubro de 2010

Lembranças de Saudade!

Hoje me deu uma saudade enorme,
lembra dos tempos de quando eu era tão pequena, que eu caminhava pela grama cumprida do sítio e quase me perdia, mas por sorte sempre tinham suas pegadas pela trilha onde eu seguia e eu sabia que se me perdesse você viria me buscar. Lembra de quando a gente saia pra caminhar e catar amorinhas, aquelas já bem docinhas, e sentávamos em baixo de uma árvore pra contar histórias.
Eu lembro da sua voz forte tocando o gado pra dentro da mangueira, lembro de quando me acordava cedo pra irmos tirar o leite, o camargo, pra o café da manhã.
Lembrei de quando a gente ia pescar e a vó gritava pro Sr. me cuidar pra não cair no rio, era engraçado.
Lembro da mesa farta, de todos reunidos em volta comendo, sorrindo, contando histórias da infância, eu lembro das músicas engraçadas que cantávamos em volta do fogão nos dias frios, lembro o jeito como tratava as coisas ruins, sempre achando um jeito de disfarçar a gravidade disso, daquilo e tornando engraçado até as coisas irrelevantes. Acredito que muito do meu senso de humor eu adquiri de ti.
Eu lembro que eu dizia que ia ficar morando no sítio, com você e a vó, e sempre que íamos embora eu ficava olhando pra trás pensando na hora de voltar.
É vô, são muitas lembranças, apesar de o Sr. ter ido tão depressa.
Foi difícil retornar ao sítio e ver tudo diferente, entrar devagar com medo de abrir a porta e não lhe ver sentado na sua poltrona com seu cafézinho na mão. Medo que eu aprendi a enfrentar, tive que enfrentar na verdade. Ir embora e não lhe ver abrindo a porteira com um sorriso nos desejando boa viagem.
Hoje me deu uma imensa falta do sr. aqui. Eu só precisava conversar, lhe contar como tem sido a minha vida, lhe dar algum orgulho e mostrar que eu já sei dirigir, como sempre quis quando entrava no seu fusquinha, lhe mostrar o quanto nossa família cresceu e o quanto o senhor nos faz falta. Como nas histórias que me contava, eu também venho tendo algumas lições, aprendi a valorizar cada momentinho, por mais breve que seja, porque depois que perdemos não há volta, meu velho.
E ah, como o sr sempre me ensinou, eu não tenho nenhum vício, não bebo, não fumo, dizem que eu tenho muitas das suas manias, vô. Completei meus estudos, estou na faculdade, a tal faculdade que o sr. queria dar a todos seus filhos e netos, eu lembro do senhor em muitos momentos. Sabe, eu conheci pessoas muito especiais ao longo desse tempo e me espelho em algumas delas, como me espelhava em ti, lembra que eu colocava suas botas enormes nos meus pés e dizia que era o senhor? Eu me sentia tão capaz de qualquer coisa, tão forte.
Quando o sr. foi embora eu sonhei um dia antes, e eu sigo tudo que me disse, estou cuidando bem da vó, da mãe, me importo com a nossa família, com o nosso sangue. Por aqui está tudo em ordem, andaram acontecendo algumas fatalidades, mas a vida é um ciclo, meu caro, e hoje com dezenove anos eu entendo, aprendi a perder, não que eu tenha aceitado, mas estou aprendendo. Vô, que o senhor esteja bem, que eu possa te encontrar mais vezes nos meus sonhos, o senhor faz muita falta e deixou um vazio eterno!




A ti, meu vô, Francisco de Assis Pereira.

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