sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Breve Passagem.

Pelas ruas solitárias e escuras do vilarejo,
seguia cantarolando, assoviando e sorrindo,
quem o espiava da janela, acreditava que fosse um bêbado, um louco qualquer.
Sua bagagem era somente uma trouxa com trapos velhos, que serviam para mantê-lo aquecido naquele inverno rigoroso. Alguns cães o acompanhavam, três ou quatro, eram seus únicos amigos.
Sem motivos sinceros o velho seguia sorrindo, já não havia mais nada a perder, era sozinho, e por tal motivo resolveu não esperar por nada, sorria por ainda ter saúde, por ter pernas fortes, por caminhar por longas horas e pensar que aquilo mesmo era viver de verdade, por sua visão não ter sido afetada pela idade e assim poder ver o quão lindo é o florescer das flores e o quanto a cidade ficava linda toda iluminada durante a noite fria.
Em seu caminho ia juntando os sonhos que se perderam, que outros deixaram de sonhar, se tornava um idealizador do impossível, um louco para toda aquela gente que o via com olhos atentos e apontando os dedos. E mesmo assim, com todo o espanto que causava ainda ria daquele povo, tão pequeno e tão tolo, pensando que a vida era injusta, povo amargo que vivia de sofrimento. Ele, um pobre velho sujo, pobre mesmo, miserável sem um tustão no bolso, ele sim era feliz.
E quando era tarde, achava um canto e acendia uma fogueira, cantarolava mais um pouco até o sono bater, dormia.
A cidade-vila que tão escura e vazia era, foi aos poucos se tornando viva, pessoas de fora chegavam somente para ver o velho e seus cães cantores, sucesso que veio sem ele esperar, já que não vivia de expectativas. Mas alegrava a toda aquela gente com gestos simples, demonstrando quem ele era de verdade, apenas um velho alegre que queria mostrar que a felicidade se fazia de pequenos momentos simples. A vila crescia e prosperava, as pessoas tornaram-se mais felizes, entenderam tudo que o senhor sempre tentou explicar, e quanto ao velho, bom depois disso ninguém mais o viu. Todos sabiam que sua passagem por lá era breve, e era por uma razão, razão essa que se tornou lição pra vida inteira.




'o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído' ♪

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