terça-feira, 30 de novembro de 2010

Me Leva Embora.

Acordei cedo, estava sozinha na cama, acredito que por esse fato dormi realmente mal.
É Setembro e as folhas lá fora caem, caem como lágrimas no meu rosto nesse dia cinzento, a sala está escura e eu temo acender as luzes e ver que não haverá ninguém sentado naquela poltrona do canto, nem ao menos esticada no tapete macio olhando fixamente para a TV, e sei que quando eu me aproximar do interruptor não haverão olhos me fitando na tentativa de descobrir o que eu pretendo mirando-a daquele jeito.
Lentamente me dirigi ao espelho essa manhã, foi necessário me certificar que ainda tinha alguma expressão facial depois de tantas caretas e choros. Pois lá estava eu, com o rosto todo marcado, pele pálida, olheiras e por fim uma cara de coitada. Caminhei até o banheiro onde banhei meu rosto na água gelada, aproveitei e passei uma cor nos lábios e tentei disfarçar as olheiras com um óculos escuro.
Sai para caminhar, não havia ninguém na rua, certamente estavam todos a esconder-se da chuva que se aproximava. Continuei meu caminho seguindo olhando para o chão, eu não tinha um rumo definido, apenas queria sair pra qualquer canto e não ter que encarar aquela casa tão vazia. Na verdade eu queria encher-me de vazio, caminhar e distanciar minha mente de tudo que pudesse impulsionar minhas lágrimas novamente.
Minhas pernas praticamente me arrastavam ao parque, era o último lugar que eu desejava estar. Mas mesmo assim sentei-me no banco enferrujado e ali fiquei com as minhas memórias, com os meus fantasmas. O silêncio tomava conta daquele lugar, apenas o vento me fazia companhia, ali tudo era escuro, um lugar morto, sem crianças, sem sorrisos, sem presença, eu mesma estava ausente, não poderia representar a única alma viva daquele lugar pois eu me sentia inválida, morta naquele dia.
Puxei o capuz da jaqueta preta e cobri minha cabeça e com as duas mãos sobre ela agachei-me como um bebê no útero da mãe, me sentia tão desprotegida, mas ao mesmo tempo acolhida pelo silêncio do parque.
Com os olhos fechados eu só desejei minha vida de volta, pensei no momento de rever aqueles olhos, de me perder novamente naquele abraço e poder desfrutar os sorrisos que agora eram tão raros.
Ao longe o balanço enferrujado rangia, um barulho ensurdecedor que parecia estar sendo reflexo do que se passava por dentro de mim, o vento não mais me acompanhava, parecia zombar de mim, trazendo consigo areia em meus olhos, ainda por cima a chuva se aproximava, decidiu chover numa vez só, chuva fria com o vento pertubador.
Não arredei o pé dali, nem havia como mesmo, pois estava praticamente presa naquele banco velho, meu corpo estava bastante molhado e eu sozinha e teimosa como de costume resolvi ficar por ali mesmo, me sentia mais viva a cada gota que escorria pela minha face e chegava aos meus lábios, pude me esconder de mim mesma debaixo de toda água que caia gelada do céu escuro. Já havia passado algumas horas desde a minha chegada e eu ainda não havia notado ninguém por perto, será que haviam se escondido de mim?
Com os olhos fechados e com toda a sensibilidade com que meus ouvidos captavam qualquer som, pude perceber passos se aproximando de mim, fiquei arrepiada, não era frio. Tive medo de olhar pra trás, senti uma mão tocando em meu ombro e baixei a cabeça com os olhos fechados desejando não estar só delirando. Não estava.
Apoiou seu queixo no meu ombro, pude sentir seu cheiro adocicado, sussurrou no meu ouvido: 'vamos pra casa, está frio aqui e você está ensopada, deixou todos preocupados, bom que eu sempre sei onde te encontrar...' Quando pronunciou a frase 'vamos pra casa' senti o coração na boca, como quem diz 'voltei pra ficar', olhei pra trás com os olhos baixos e as maçãs do rosto vermelhas, apenas estiquei meus braços pedindo um abraço que recebi prontamente. -'Quer dizer que vamos voltar pra casa?', falei em tom baixo, com medo de uma resposta negativa. 'Vamos sim, aliás, levanta, anda logo, preciso te dar um banho antes que fique doente e tenhamos que domir em quartos separados...'. Com cara de espanto apenas mirei aquele rosto de pele alva com os cabelos escorridos e a boca vermelha, a minha visão perfeita, num dia que tinha tudo pra ser sombrio e vazio.
- Mas o que te fez mudar de idéia?, -Idéia? Eu não 'idealizei' te amar, apenas amo, agora anda logo, teimosa...'



L.F

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