terça-feira, 30 de novembro de 2010

Resolveu Voltar!

Hoje resolveu aparecer por aqui, eu só pude acompanhar com os olhos seus passos lentos vindo em minha direção, eu ali, sentada naquele sofá vermelho, um vermelho morto, tão morto quanto o seu olhar de decepção. Deitou-se sobre minhas pernas e por ali ficou soluçando, chorando e eu sem reações só pude passar as mãos por seus cabelos esparramados no sofá. Eu não sei porque, mas naquela hora todas as palavras que eu tinha pra dizer se desfizeram num silêncio tranquilizante.
Me lembrei que estávamos deitados na cama, dormíamos abraçados, mas naquela noite, após meu banho quente, caminhei descalça até a cama onde já encontrava-se com os olhos fechados, deitei então no meu lado, nossas costas nunca haviam se encontrado daquele jeito. Com a voz baixa, tão baixa que mal se ouvia tentou puxar alguma conversa dizendo-me que meus pés estavam frios. Tive vontade de dizer que não eram mais frios que a nossa situação.
O sono não vinha e quanto mais eu me mexia na cama na tentativa de encontrar uma posição mais confortável ou de acordá-la para sentir seu abraço e dormir tranquila, mais apertava meu peito. Solucei, segurei minha lágrimas, tentei abafar com o travesseiro. Na minha tentativa fracassada de descansar levantei-me de vez, fui a passos lentos para a cozinha e brinquei com os imãs da geladeira, aqueles que formavam os nossos nomes. Bebi vagarosamente um copo de água gelada que parecia me cortar mais um pouco por dentro, misturei um pouco de açúcar pra tentar trazer alguma doçura, algum gosto pra boca seca.
Não quis voltar pra cama, me doía saber que estaria do lado de quem eu mais amava e não teria uma reciprocidade, minha vontade era de deitar e dar aquele nosso terno abraço, aquele que me aquecia nas noites frias, que sentia meu corpo suar em noites quentes, o nosso abraço pra qualquer hora não existia naquela. Fui então pro sofá, um sofá vermelho e empoeirado que havia ganhado de presente logo que nos juntamos, era inicialmente nosso ninho de amor, onde deitávamos e assistíamos a um filme bobo na TV, ou apenas ficávamos ali por horas sem fazer absolutamente nada. Sem mais, eu dormi, apaguei com algumas lágrimas ainda escorrendo continuamente em meu rosto cansado.
Acordei tarde, acredito que coloquei o sono em dia, com os olhos entreabertos pude observar sobre a mesa de centro um pequeno pedaço de papel e em cima dele o molho de chaves da nossa casa. Sentei-me e antes de esticar meu braço para pegar o papel pensei nas possibilidades do que haveria escrito ali. 'Será que foi espairecer a cabeça', 'ou quem sabe foi passear com o cachorro', 'foi na casa da mãe dela, deve ser'. O hábito de deixar bilhetes para avisar esse tipo de coisas era frequente entre nós, mas naquele dia eu apenas tentava me enganar pensando que poderia ser um desses avisos e não o aviso final. Sem nenhuma esperança curvei as costas e estiquei o braço peguei o papel rabiscado com lápis, decerto não quis escrever a caneta por sentir vontade de mais tarde apagar...
'Minha pequena, vi que você dormia, não quis perturbá-la, sei que trabalhou bastante e estava cansada, queria pedir desculpas pelo abraço que não lhe dei e também pelo meu adeus não dito, quero deixar a nossa historia assim, sem um ponto final, pois sei que vou me arrepender, mas o tempo se faz necessário. Até.'
Fiquei sem reação, o bilhete tinha sido escrito as 7 ou 8 da manhã que foi a hora que ouvi um ruído na porta, pensei estar dormindo e nem quis ver do que se tratava, agora eram 6 da tarde, será que ainda não havia se arrependido? Coloquei as mãos nos olhos inchados e deixei que a hora passasse, vi o dia escurecer, o sol acordando e minha alma diminuindo, nunca me ví assim tão fragilizada, cruzei os pés em cima do sofá, joguei a cabeça pra trás com a mão na testa.
Ao lado da porta estava o seu par de all star vermelho, o mesmo vermelho do sofá e o vermelho dos meus olhos cansados.
Ouví um ruído na porta, com os olhos baixos pude ver seus tênis brancos, depois de tantos dias sem sua presença, hoje resolveu aparecer por aqui, eu só pude acompanhar com os olhos seus passos lentos vindo em minha direção, eu ali, sentada naquele sofá vermelho, um vermelho morto, tão morto quanto o seu olhar de decepção. Deitou-se sobre minhas pernas e por ali ficou soluçando, chorando e eu sem reações só pude passar as mãos por seus cabelos esparramados no sofá. Eu não sei porque, mas naquela hora todas as palavras que eu tinha pra dizer se desfizeram num silêncio tranquilizante, todas as perguntas e toda a dor, haviam sumido. Eu só sentia que deveria ficar naquele sofá por mais quantos dias fosse, desde que tivesse comigo aquela companhia. Com os olhos inchados igualados aos meus me olhou, passou a mão suavemente em meus lábios, me beijou de forma terna e romântica como se fosse a primeira vez e disse-me que só havia voltado porque deixara comigo uma parte se não o todo que lhe pertencia.

L.F

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